NOEL ROSA E A DIFUSÃO DO SAMBA ATRAVÉS DE SUA POLÊMICA COM WILSON BATISTA SOBRE O SIGNIFICADO DA MALANDRAGEM PERANTE A SOCIEDADE. (1920-1937)

            
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Resumo: Abordar-se-á neste artigo a obra de uma das pessoas que marcaram a musica popular brasileira no século XX, Noel Rosa. Assim como todo o seu grupo e amigos que alavancaram o samba para os grandes lugares da sociedade da época. Será analisado através das letras de suas musicas como o samba se transformou numa representação de tudo o que é mais brasileiro, rompendo as diferenças e preconceitos entre o morro e a cidade. Através de Noel Rosa que aparece em relevo através da originalidade de tudo o que faz como também sua vasta produção de enorme qualidade em tudo que fazia.

         Palavras -Chave: Noel Rosa – Música popular – Cultura brasileira – Representações sociais.
         Abstract: Will address in this article the work of one of the people that marked the Brazilian popular music in the twentieth century, Noel Rosa. Like all his group and friends who leveraged samba for large places of society at the time. Will be examined through the lyrics of his songs such as samba became a representation of all that is most Brazilian, breaking prejudices and differences between the hill and the city. By Noel Rosa appearing in relief through the originality of everything it does as well as its vast production of outstanding quality in everything he did.
     
             KEYWORDS: Noel Rosa – Popular music – Brazilian culture – Social representations








INTRODUÇÃO

O Samba grande paixão de Noel Rosa, tem inicio para o grande publico com a gravação do primeiro samba Pelo Telefone de Donga que frequentava a casa de Tia Ciata que era o ponto de encontro dos sambistas da época ,tais como, Ismael Silva, Cartola, Araci, Almirante os Tangarás tiveram um grande papel na história do samba e na vida de Noel, mas neste trabalho será focado na famosa polêmica dele com Wilson Batista que protagonizaram um dos maiores embates discutidos do samba até nossos dias, em que se discutia se o samba era coisa de malandro de um jeito bem caricaturado que era alvo de desconfiança por parte da sociedade da época, ou se era apenas um rapaz folgado como dizia Noel Rosa na letra de sua musica de resposta ao Lenço no Pescoço de Wilson Batista que era uma exaltação a figura do malandro, que Noel afirmava que chamar o sambista de malandro o fazia perder todo o seu valor.
“Com relação ao contexto histórico ele nasceu quando a republica havia sido proclamada a mais ou menos duas décadas.” O Brasil ainda estava fortemente ligado ao antigo sistema político apesar dos esforços de modernização e inserção no novo contexto desenvolvimentista mundial. Tanto na busca do “moderno” quanto no sistema político que surgia, a população, de maneira geral, assistia como que hipnotizada. Nas raízes desse ímpeto de reformas em todos os setores, estava o pensamento positivista diretamente importado da Europa, mas adaptado ao estilo brasileiro. “Sob o lema “o amor por princípio, à ordem por base e o progresso por fim”, os dirigentes brasileiros buscavam construir um novo país”. Como cita o Professor Ramiro Lopes Bicca Junior¹.
Ele vivia entre o morro e a cidade, o que o diferenciava também e que havia feito um curso superior o que não era comum a todos. Onde ele não fazia distinção nenhuma com qualquer pessoa, pois acreditava que o samba poderia ser um agente integralizador da cultura nacional sua obra aproxima as duas realidades vigentes que não se aproximavam e com o samba do poeta da vila as pessoas de classes mais elevadas começaram a olhar com olhos mais brandos a questão do samba não como produto do morro e sim como do Brasil. Onde animava carnavais, e embalava o desfile das primeiras escolas de samba.


1-ASPECTOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS

Os conceitos que serão usados são o de Representações Sociais através da obra de Serge Moscovici, Que retoma o conceito de representação social de Emile Durkheim, onde Moscovici designa este conceito através de fenômenos múltiplos observados e estudados em termos de complexidades individuais e coletivas ou psicológicas e sociais. Nos dias de hoje este termo saiu da orbita da sociologia para gravitar na psicologia social. Assim as representações sociais como uma maneira de pensar a realidade cotidiana.
E que está representação é sempre a atribuição da posição que as pessoas ocupam na sociedade, toda representação social é representação de alguma coisa ou de alguém. Ela não é copia do real, nem do ideal, nem parte subjetiva do objeto, nem parte objetiva do sujeito, nem parte objetiva do sujeito, ela é o processo pelo qual se estabelece a relação entre o mundo e as coisas.
          As representações sociais apresentam como uma maneira de pensar e interpretar a realidade quotidiana, uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indivíduos e pelos grupos para fixar suas posições em relação à situação, eventos e objetos e comunicações que lhe concernem.
          O que ocorre especialmente, no contexto do samba carioca da época, onde todos os fatores que ocorrem no dia-a-dia, problemas financeiros, excesso de trabalho em condições insalubres, discriminação contra o chamado comportamento de malandro, repressão aos cultos das religiões africanas vão ser muito destacados nos sambas que eram compostos, e que através destas musicas nutriam um sentimento de integração por viver os mesmos problemas.
Esse social intervém de várias formas, pelo contexto concreto no qual se situam grupos e pessoas, pela comunicação que se estabelece entre eles, pelo quadro de apreensão que fornece sua bagagem cultural, pelos códigos, símbolos, valores e ideologias ligados as posições e vinculações sociais especificas, em outras palavras, a representação social é um conhecimento pratico, que da sentido aos eventos que não são normais e está representação é sempre a atribuição da posição que estas pessoas ocupam na sociedade, toda representação social é representação de alguém ou de alguma coisa.   
No caso de Noel Rosa, que morava em um bairro de classe média, chegou a cursar o ensino superior, frequentava lugares da zona sul, assim como lugares mais humildes onde teve contato com grandes sambistas da Mangueira, Salgueiro e Estácio. Mas causou muita polêmica por conta de sua origem, tendo inicio a primeira grande polêmica da musica popular brasileira com Wilson Batista, mas está origem de Noel vai contribuir muito para a difusão do samba para as outras classes, principalmente a burguesia carioca.
Para Denise Jodelet a representação social tem cinco características fundamentais: É sempre representação de um objeto; Tem sempre um caráter imagético e a propriedades intercambiáveis a sensação e a ideia, a percepção e o conceito; Tem um caráter simbólico e significante; Tem um caráter construtivo; Tem um caráter autônomo e criativo;     
Por seu papel na orientação das condutas e praticas sociais as representações sociais são objeto de estudo que restitui as disciplina suas dimensões históricas, sociais e culturais. Sua teoria deveria permitir uma aproximação entre a psicologia social e as ciências sociais, buscando unificar uma série de questões situadas entre estas disciplinas. Para Serge Moscovici, ocorreu uma redescoberta de espirito nos últimos anos. A razão disso reside em um problema fundamental da psicologia social, ciência fundada para formular leis do espirito social.
Distinguem-se três fases na evolução dessa disciplina, caracterizada por um conceito bem definido, as atividades sociais, as cognições sociais e representações sociais. Dai as representações nascem do curso das variadas transformações sociais que geram novos conteúdos, durantes estas metamorfoses, as coisas não apenas se modicam são também vistas de um ponto mais claro.
O que ocorre com a difusão do samba através da obra de Noel ocasiona uma transformação no tocante o ritmo se diferenciando do samba com origem no lundu² praticado na casa de Tia Ciata. Está mudança possibilita ao ritmista caminhar e tocar ao instrumento o que revolucionou as marchinhas de carnaval, tendo inicio com o marcante samba com que roupa? Que muitos já ouviram, mas não sabem que Noel Rosa não era seu autor.
Todas as coisas que tocam o mundo a nossa volta são tanto o efeito de nossas representações como as causas dessas representações. E ainda para Moscovici não existe nada na representação que não esteja na realidade, exceto a representação em si. E este processo de representação social, permite interpretar e conceber aspectos da realidade para agir em relação a eles, uma vez que está representação social toma o lugar o objeto social a que se refere transforma-se em realidade para os atores sociais.
Algo importante também para ser salientado é que as representações sociais é que ela transforma o que é estranho em familiar por meio de agregar a novidade a estruturas de conhecimento já existentes. E sobre pertencer a um grupo determinado grupo ou não ocorre com Noel Rosa que através de sua musica consegue perpassar diversos grupos o que gera às vezes um pouco de resistência, mas por outro lado aceitação.
No que diz respeito ao conceito de cultura de massa vai ser utilizado o aporte teórico de Edgard Morin sobre este item, onde diz que a cultura de massas segue as normas capitalistas e é destinado a um aglomerado gigantesco de indivíduos compreendidos aquém e além das estruturas internas da sociedade.
Dai o samba estar inserido neste contexto da cultura de massa, pois Morin não considera somente a cultura culta, onde diz que é somente guiada pela estética, à qualidade, criação, espiritualidade e elegância produzida pelos intelectuais.
O samba que Noel Rosa introduz, sofre com o que Morin vai chamar de mecanismo de adaptação ao publico, e vice e versa, sendo aceito por varias camadas da sociedade. O que Noel Rosa queria era atingir o maior publico possível, caracteriza-se, portanto como uma cultura de massas, onde o samba não era mais de uma parcela da sociedade mais humilde, passando a ser também da elite burguesa e adiante se torna um elemento identificador do país.
A cultura de massas é, portanto, o produto de uma dialética produção consumo, no centro de uma dialética global, que é a sociedade em sua totalidade. Outro fator a ser lembrado são as letras das musicas de Noel, que sempre muito alegres e descontraídas facilitaram ao consumo se tornando popular de uma maneira muito rápida.
Sobre Identidade Social, pode ser compreendido através da obra do Poeta da Vila, que ocorreu uma mudança no que tange a identidade do sambista que era visto de uma maneira mais pejorativa, pelas outras classes que tinham uma imagem de que o samba era ligado somente aos mais humildes que viviam no morro, passando com Noel Rosa, a ser da área urbana. Dai a sensação de descobrir quem é o que somos denomina-se identidade social. Identidades sociais são importantes para o individuo na definição de planos de ação, na aquisição de um critério para avaliar seu próprio desempenho além de dar algum significado à vida. A afirmação da identidade social ocorre estabelecendo-se um parâmetro com os outros membros da sociedade.
Uma roupa pode distinguir um individuo num grupo qualquer de pessoas, o que ocorria com Noel que sempre presava por estar bem vestido seja em qualquer lugar que se encontrava. Às vezes com uma aptidão com instrumento musical pode servir como identidade social, o que é visto com Noel Rosa e seu violão, o que fazia ter algo em comum com os sambistas de realidade diferente, a musica.
Assim a identidade social está sempre associada à identificação com um grupo em particular, e a diferenciação com outros grupos. Desse modo o processo da identidade social tem dois momentos importantes: o primeiro é o da diferenciação do grupo mais geral, e o segundo momento é a procura pelos semelhantes. Que constituirão um grupo, o qual se identificara como tal perante os outros.













2- O SAMBA COMO A VOZ DO MORRO

O samba neste período era o que retratava de uma maneira mais fiel à realidade vivida pelos mais humildes, nas primeiras décadas do século XX. Expondo as mazelas, as grandes jornadas de trabalho que através dos governos populistas tentavam impor uma politica onde o trabalho formal seria o pilar das mudanças que o país estava começando a viver. Assim a malandragem e Boemia tão cantadas pelos sambistas, não era algo visto com bons olhos por parte da população, a partir de então as letras passam a ter um tom mais provocativo expondo todo o descontentamento dos mais humildes em relação à carga horária de trabalho praticamente integral, deixando assim as rodas de samba em segundo plano.
Nos primeiros anos quando se falava de samba no Rio de Janeiro, sobretudo se referiam á pessoas ligadas à comunidade negra e mestiça emigrados da Bahia, que se instalará nos bairros próximos do cais do porto, a saúde, a Praça Onze, a Cidade Nova. Essas pessoas cultivavam muitas tradições de sua terra natal: era uma gente festeira, que gostava de cantar, comer, beber e dançar.
Chamavam suas festas de sambas, entre os frequentadores destas festas baiano-cariocas estavam músicos em vias de profissionalização, como os famosos Pixinguinha, Sinhô e Donga.
Donga, filho de uma baiana festeira, não foi o primeiro a usar o nome samba como denominação de gênero pra uma destas composições foi o primeiro a obter enorme sucesso popular ao fazê-lo com famosa canção “Pelo telefone” de 1917.
O grande fator que põe o samba como a voz do morro foi à criação das escolas de samba, que uma vez por ano o morro descia para ao asfalto para expor toda a sua arte e cultura, e brigar por melhores condições de vida. No final dos anos 1920 foram criadas as primeiras escolas de samba. A origem desta denominação é incerta, ao que parece certo é que está ligada a um bloco carnavalesco no bairro do Estácio de Sá “Deixa Falar”, que anos mais tarde vai se tornar a escola de samba Estácio de Sá.
Este bloco teria sido o primeiro a desfilar ao som de uma orquestra de percussão, formada por surdos (tambores graves), tamborins (tambores agudos) e cuícas (tambores de fricção), aos quais se juntavam os pandeiros e chocalhos. Este conjunto instrumental foi chamado de bateria e prestava-se ao acompanhamento de um tipo de samba que já bem diferente dos de Donga, Sinhô e Pixinguinha.
O samba do Estácio como dizia Ismael Silva, era um samba com um ritmo mais acelerado o que proporcionava uma harmonia para o ritmista toca e se locomover com o instrumento sem prejudicar o andamento do samba. Como diz o próprio Ismael numa entrevista a Sergio Cabral:
“Quando comecei, o samba não dava para os agrupamentos carnavalescos andarem nas ruas, conforme a gente vê hoje em dia. O estilo não dava para andar. Comecei a notar que havia essa coisa. O samba era assim”:     
“Tan tantan, tan tantan”. Não dava Como é que o bloco ia andar assim? Ai a gente começou a fazer um samba assim:
Bum bum paticumbunprugurudum
Nem tudo que se diz faz
Eu digo serei capaz
De não resistir
Nem é bom falar
Se a orgia se acabar.”   


      Assim o samba passa a ser algo mais profissionalizado, se tornando um produto identificador do país perante as outras nações. E as polêmicas que ocorreram entre os sambistas, especialmente a de Noel Rosa com Wilson Batista, foram fatores que indicaram as varias transformações técnico musicais pelas quais o samba passava, inseriam-se no processo de estruturação do mercado musical onde o sambista que cada vez mais se profissionalizava ao mesmo tempo em que criava a moderna musica popular brasileira.
Esse período até o final da década de 1930 foi o tempo de atuação de Noel Rosa, como compositor de sambas, e tendo sido de participação marcante em todo o processo; o Poeta da Vila vai servir de fio condutor que vai desenrolar todo o novelo do samba e como Noel contribuiu para a difusão do samba para toda a sociedade, e com participação fundamental na profissionalização do samba, afastando assim uma imagem negativa que era ligada ao sambista, que era descrito nas musicas de Wilson Batista, que rende comentários e discussões até os dias de hoje.
2.1-NOEL ROSA COMO AGENTE DIFUSOR DE DIFERENTES CULTURAS

Noel Rosa que havia iniciado sua carreira musical como compositor de musica sertaneja (emboladas), começa a se interessar de modo mais intenso pelo samba a partir de 1929, ano da gravação do Na Pavuna. O sucesso que essa gravação obteve teria despertado em Noel Rosa o desejo de lançar seu bairro Vila Isabel no mundo do samba selava-se assim a adesão inconteste dele ao samba (FENERICK, 2005:226). Noel então escreve o seu Eu vou para a Vila, samba gravado por Almirante e Bando de Tangarás em 1930 e lançado no carnaval de 1931.
Eu vou para a Vila/Noel Rosa
Não tenho medo de bamba
Na roda de samba
Eu sou bacharel
(Sou bacharel)
Andando pela batucada
Onde eu vi gente levada
Foi lá em Vila Isabel...

Na Pavuna tem turuna
Na Gamboa gente boa
Eu vou pra Vila
Aonde o samba é da coroa.
Já saí de Piedade
Já mudei de Cascadura
Eu vou pra Vila
Pois quem é bom não se mistura

Quando eu me formei no samba
Recebi uma medalha
Eu vou pra Vila
Pro samba do chapéu de palha.
A polícia em toda a zona
Proibiu a batucada
Eu vou pra Vila
Onde a polícia é camarada.
Neste samba ele tem um dialogo com os outros bairros da cidade e lança a Vila como um centro em potencial do samba carioca, demarcando seu território como aquele que a policia é camarada o que vai fazer uma grande propaganda do bairro que vai receber vários sambistas de diversos pontos o Rio de Janeiro.
Uma característica muito particular era o sentimento de superioridade da Vila Isabel em relação aos outros bairros, ao mesmo tempo em que pregava respeito e destacava os pontos positivos.
Sem a repressão social forte, Vila Isabel era o lugar ideal para o sambista atuar, especialmente num momento de transição da repressão policial para a aceitação social do samba. Outro ponto a ser destacado e o ritmo que Noel segue o padrão do Estácio, marcando está transição que o samba passava com uma pulsação rítmica toda ela baseada em acompanhamento de instrumentos de percussão ou palmas da mão.
Noel considerava tanto o samba do Estácio que quando aparecia um compositor jovem ele perguntava:_ “Isto é samba ou é aquela coisa que a Carmem Miranda canta?” (Apud MAXIMO&DIDIER, 1990:233)
O problema de Noel Rosa não era exatamente com Carmem Miranda, até porque ele a considerava a maior cantora de marchas de sua época, mas sim com aquele tipo de samba que ela eventualmente cantava. Ele vestiu o samba do Estácio e desconsiderou todo o resto, em seus sambas ele fazia referencias a quase todos os recantos do samba carioca que eram ligados ao samba nos moldes do Estácio: Mangueira, Salgueiro, Osvaldo Cruz e Madureira. No entanto ele nunca se referiu a Cidade Nova que era reduto dos sambistas da geração de Donga, Sinhô e Pixinguinha; Assim o Poeta da Vila num primeiro momento desloca o samba do fundo das casas das Tias Baianas para o morro e o subúrbio, os locais preferenciais para o samba manter ou passar a ter sua originalidade.
Assim percebe-se está atuação de Noel como agente difusor de culturas, que através de sua atuação transforma este samba de raízes baianas num primeiro momento, transferindo-se agora para os morros e subúrbios se adequando como um elemento identificador do Rio de Janeiro e adiante do Brasil.
Ao cantar sua Vila Isabel, que curiosamente só aparece em três de seus sambas, ao contrario de outros locais-como a mangueira e o salgueiro, por exemplo, muito mais citados, o que deixa claro que não é apenas no morro que o samba é feito, nos bairros do subúrbio o samba também tem seu valor. O que Noel Rosa faz, portanto é uma constante associação, por meio de suas canções do samba com o morro. Já para Orestes Barbosa, por sua vez, é mais categórico. Para ele o samba só mantém sua originalidade e pureza no morro, local que segundo Orestes o samba teria se formado.
Interessante destacar que a visão que Noel Rosa tinha sobre o morro não era exclusivamente geográfica, mas sim de postura diante do samba, é uma visão de mundo, ou mesmo uma visão mítica. O que ele dizia estar em questão, se o samba é do morro ou da cidade, mas sim o antagonismo entre duas posições distintas que decorrem desta dicotomia entre a cidade e morro: a postura burguesa e a postura malandra, sendo que apenas a segunda se enquadraria perfeitamente no samba. Neste samba gravado por Araci de Almeida (1936), diz Noel:  

O x do problema/ Noel Rosa

   Nasci no Estácio
Eu fui educada na roda de bamba
Eu fui diplomada na escola de samba
Sou independente, conforme se vê

Nasci no Estácio
O samba é a corda e eu sou a caçamba
E não acredito que haja muamba
Que possa fazer gostar de você

Eu sou diretora da escola do Estácio de Sá
E felicidade maior neste mundo não há
Já fui convidada para ser estrela do nosso cinema
Ser estrela é bem fácil
Sair do Estácio é que é o X do problema

Você tem vontade
Que eu abandone o largo de Estácio
Pra ser a rainha de um grande palácio
E dar um banquete uma vez por semana
Nasci no Estácio
Não posso mudar minha massa de sangue
Você pode ver que palmeira do mangue
Não vive na areia de Copacabana.

A figura do malandro, que foi referida anteriormente, começa a povoar o samba no final dos anos 1920, talvez seja a denominação ultima de um tipo recorrente na cultura brasileira. As características primordiais do malandro como aquele que recusa o trabalho e vive de expedientes e golpes aplicados em algum “otário”, podem ser encontrados, desde pelo menos século XIX.
 Em Lundus e romances do século XIX, este personagem aparece com o nome de vadio, cujo vinculo com a musica popular, se da a partir de sua relação estreita com a viola e a cachaça, tocar viola e tomar cachaça transforma-se em ícones da vadiagem, da recusa do trabalho, e por consequência na lógica de uma sociedade escravagista como a do século XIX como uma citação a desordem ( SANDRONI,2001:156-158).
Já no século XX, o vadio e o capadócio, se transformam no malandro, visto pela empresa da época quase como um sinônimo de sambista. Uma vez que a identidade entre o sambista e a malandragem ocorre no mesmo momento em que se da à mudança estilística do samba por meio dos compositores do Estácio. (IDEM:159)
Noel Rosa vê o sambista malandro como um Boêmio, nessa associação um novo local para o samba: o botequim. O sambista malandro é um assíduo frequentador de botequins, seja no morro ou na cidade, e lá que o samba se faz de maneira mais intensa, e a mítica do samba do morro, se junta à mítica do samba do botequim, como mais um elemento do verdadeiro samba, assim o botequim para o Rio de Janeiro é um ponto de sociabilidade. O samba agora não está mais confinado simbolicamente na casa das Tias Baianas, o botequim é um local publico ele é um espaço da cidade, o sambista não era mais visto como aquele que definha os antigos segredos do partido alto ou das velhas tradições, mas sim como um malandro boêmio, que perambula pelos morros e pela cidade, pelo Rio de Janeiro enfim assim era Noel Rosa um legitimo boêmio.





3-DIFUSÃO DO SAMBA NAS CLASSES BURQUESAS DA ÉPOCA

Neste ponto do artigo, será exposto todo o processo de modernização capitalista, do processo de produção do samba e as relações sociais derivadas, dai exigiam uma nova atitude do sambista e Noel sabia que este processo era irreversível e alteraria muitas das relações sociais derivadas dai exigiam uma nova atitude do sambista e Noel sabia que este processo era irreversível e alteraria muitas das relações tradicionais que o sambista mantinha com o seu samba, relações estas quase sempre lúdicas.
A civilização estava subindo o morro e Noel Rosa dizia que o sambista tinha de ficar atento a isso, para não sucumbir diante de novos tempos. Em uma entrevista concedida ao jornal o globo, em 1932, Noel comenta o processo de modernização pelo qual o samba estava passando e sistematicamente toma a dicotomia entre a cidade e o morro, como modo de explicar suas ideias explicar a respeito do samba de mercado (da cidade) e o samba tradicional (do morro), diz Noel:
Antes a palavra samba tinha um único sinônimo: mulher. Agora já não é assim. Há também o dinheiro, a crise. O nosso pensamento se devia também para esses gravíssimos temas. O problema da vida, seriamente agravado com nossas manias de complicar as coisas mais simples, teria de imprimir novos rumos para o samba. Agora o malandro se preocupa no seu samba, quase tanto com o dinheiro como com a mulher. A mulher e o dinheiro, afinal, são as únicas coisas sérias desse mundo. O samba está na cidade. Já esteve, é verdade, no morro, isso no tempo em que não havia aqui em baixo samba. Quando a bossa nasceu, a cidade derrotou o morro. O samba lá de cima perdeu o espírito, o seu sabor inédito. Em primeiro lugar, o malandro sofreu uma transformação espantosa. Antes era diferente; agora está mais ou menos banalizado. A civilização começa a subir o morro, levando as suas coisas boas e suas coisas péssimas (Apud, FENERICK, 2005: 243-244).

Noel nesta entrevista expõe as mudanças que estavam ocorrendo na mente do sambista que antes só tinha um único sinônimo também escrevia sambas sobre o cotidiano a crise de 29, a falta de dinheiro que lhe inspiraram na composição do samba com que roupa? Que retrava está realidade financeira.


Com que Roupa?/Noel Rosa

Agora vou mudar minha conduta,
Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar
Vou tratar você com a força bruta,
Pra poder me reabilitar
Pois esta vida não está sopa e eu pergunto: com que roupa?

Com que roupa eu vou pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?
Agora, eu não ando mais fagueiro,
Pois o dinheiro não é fácil de ganhar

Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro,
Não consigo ter nem pra gastar
Eu já corri de vento em popa, mas agora com que roupa?

Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?
Eu hoje estou pulando como sapo,
Pra ver se escapo desta praga de urubu
Já estou coberto de farrapo, eu vou acabar ficando nu

Meu terno já virou estopa e
Eu nem sei mais com que roupa
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?

Dirigindo o pensamento do sambista para estes gravíssimos temas assim de uma maneira muito cômica ele expunha que as únicas coisas que são realmente sérias na vida são a mulher e o dinheiro. Fala também de como o samba da cidade a “civilização” subiu o morro e levou tudo de bom e tudo de ruim que a vida da cidade proporciona. Onde o malandro do morro sofreu uma mudança espantosa ficando mais ou menos banalizado.
Noel quer legitimar o samba perante a sociedade por meio da arte, no caso a musica, estabelecendo-o como um traço reconhecido da cultura ao mesmo tempo em que não rejeita seu potencial mercadológico, como musica popular destinada ao consumo popular destinado ao consumo diário por meio da veiculação em rádios ou venda de discos.
Noel proclamava a existência do samba como musica popular, ou seja, mais um produto a ser vendido no mercado. Assim a obra do poeta da vila cria um transito entre o ethos negro (morros e favelas), e a cidade (a classe média, o capitalismo ascendente a industrialização) desta forma em conformidade com a ideologia do populismo de sua época.
E sempre buscava enfatizar a importância do compositor como agente integralizador de culturas, ele permitiu uma comunicação direta da cidade e seus mais diversos grupos sociais, tendo como poder de alcance o rádio como seu grande aliado, pois chegava a diversos setores da população, com ele a arte do simples deixa de ser considerada como cultura dos excluídos para se tornar objeto de analise e reflexão.
Identificava-se assim como elementos que expressam e fazem parte de diferentes culturas que constituem a realidade social carioca do período em que viveu. A simplicidade das tradições dos morros, das periferias, do universo dos malandros e operários, desprende-se da suposta totalidade representada pelo progresso, pelas fabricas, pela modernidade globalizante.
Assim estas afirmações são ditas por Noel Rosa em entrevista ao o Debate em 09 de março de 1935, mostrando como foi à difusão do samba nas classes burguesas da época:
A princípio o samba foi combatido. Era considerado distração de vagabundo. Mas o samba estava bem fadado. Desceu do morro, de tamancos, com o lenço ao pescoço, vagou pelas ruas com um toco de cigarro apagado no canto da boca e as mãos enfiadas nas algibeiras vazias e, de repente, ei-lo de fraque e luva branca nos salões de Copacabana. Mas o companheiro do samba será sempre o violão, que já obteve também sua vitória definitiva. O samba é a voz do povo. Sem gramática, sem artifício, sem preconceito, sem mentira. É malicioso e... ingênuo. O povo carioca sente a alma do samba. (DEBATE;1935)

O samba assim faz parte de toda a realidade social e cultural brasileira, independente de fronteira de raça ou de classe. Nesse sentido Noel Rosa, compreende está característica por conta de ser ele mesmo responsável por está transformação do samba em elemento aglutinador de culturas.

3.1-O SAMBA COMO UM FEITIÇO DECENTE


Neste subitem tratar-se-á a polêmica de Noel Rosa com Wilson Batista, assim como todo o dialogo no que tange está mudança que o samba obteve com grande aceitação do publico.
Muitos dizem que Wilson Batista quis pegar carona no sucesso de Noel, compondo uma série de musicas em tom provocativo, Wilson Batista foi tão além chegando a expor em sua musicas todo o incomodo que ele tinha com seu problema no maxilar, que ocorreu no parto e o acompanho durante toda a sua vida, chegando ao ponto de Wilson batista chamar Noel de o Frankenstein da Vila, mas para muitos o poeta da vila não levava para o lado pessoal as provocações, todas as musicas que Noel escreveu em resposta á Wilson se tornaram clássicos do cancioneiro popular brasileiro. E foram de grande valia para a afirmação do Bairro de Vila Isabel como um novo centro do samba carioca e o poeta da vila como um dos primeiros expoentes da musica popular brasileira.
Foram compostas como dito anteriormente uma serie de musicas que em suas letras dizem muito como se deu esta afirmação do samba e sua difusão como muito dos hábitos quotidianos da época.
Assim serão apresentadas algumas destas musicas que simbolizaram a primeira polêmica da musica popular brasileira.




Lenço no Pescoço/ Wilson Batista

Meu chapéu do lado
Tamanco arrastando
Lenço no pescoço
Navalha no bolso
Eu passo gingando
Provoco e desafio
Eu tenho orgulho
Em ser tão vadio

Sei que eles falam
Deste meu proceder
Eu vejo quem trabalha
Andar no miserê
Eu sou vadio
Porque tive inclinação
Eu me lembro, era criança
Tirava samba-canção
Comigo não
Eu quero ver quem tem razão

E eles tocam
E você canta
E eu não dou.

Nesta música de Wilson Batista, fica bem claro sua posição de sambista de uma ala de raiz mais africana, voltada para aquele modelo de sambista que onde passava as pessoas da cidade ficavam apreensivas por conta que este malandro que andava em tom provocativo com a navalha no bolso pronto para a briga, era muito relacionado também com o grupo de capoeiristas que andava pela cidade provocando temor na classe média da época.
Este sambista descrito por Wilson Batista é o retrato do sambista antes dessas mudanças sofridas pelo sambista devido à turma do Estácio e Noel Rosa, onde se tinha orgulho de ser tão vaio, dai Noel veio a compor uma excelente resposta em sua musica rapaz folgado que possa ser considerado um importante fator de mudança na mentalidade do sambista de um malandro ligado sempre a marginalidade, para um rapaz folgado, um boêmio preocupado em se divertir e tocar seu samba sem perder seu senso critico.
Rapaz Folgado/ Noel Rosa

Deixa de arrastar o teu tamanco
Pois tamanco nunca foi sandália
E tira do pescoço o lenço branco
Compra sapato e gravata
Joga fora esta navalha que te atrapalha

Com chapéu do lado deste rata
Da polícia quero que escapes
Fazendo um samba-canção
Já te dei papel e lápis
Arranja um amor e um violão

Malandro é palavra derrotista
Que só serve pra tirar
Todo o valor do sambista
Proponho ao povo civilizado
Não te chamar de malandro
E sim de rapaz folgado.

Noel propõe que Wilson deixe este tamanco de lado, pois tamanco nunca foi sandália, que ele mudasse seu proceder que fosse comprar sapato e gravata deixando assim de lado a navalha que tanto o atrapalhava. Noel queria que Wilson não exaltasse tanto está malandragem em tom desafiador, pois na letra Noel dizia que da policia ele escapasse, acrescenta que já lhe deu papel e lápis, que ele arranje um violão e um amor, completa  assim que “ malandro é palavra derrotista que só serve para tirar todo o valor do sambista, propõe então que Wilson Batista mude  denominação de malandro para rapaz folgado.
A partir de então começa a acontecer uma mudança de imagem do sambista perante a sociedade o que ia facilitar muito sua difusão através desta grande jogada de Noel Rosa que via o sambista como um boêmio frequentador de bares e cabarés, de morros e bairros do subúrbio sempre em busca de aproveitar a vida e conhecer pessoas.
A resposta de Wilson Batista vem de uma maneira mais dura na musica mocinho da vila onde diz claramente para Noel cuidar de seu microfone, pois quem fala de malandro para ele Wilson Batista é “otário”, pois ele diz que mesmo com lenço no pescoço desacato e também tem o seu cartaz.
Mocinho da Vila/Wilson Batista

Você que é mocinho da Vila
Fala muito em violão, barracão e outros fricotes mais
Se não quiser perder
Cuide do seu microfone e deixe
Quem é malandro em paz
Injusto é seu comentário
Falar de malandro quem é otário
Mas malandro não se faz
Eu de lenço no pescoço desacato e também tenho o meu cartaz.

Noel Rosa responde com a musica Palpite Infeliz onde diz que a Vila Isabel não quer tirar lugar de ninguém, que apenas mostrar que na Vila Isabel também se faz samba de qualidade, ele evoca todos os tradicionais centros do samba que são ligados ao Estácio e diz que eles entendem o que ele e a Vila Isabel pretendem.
Após faz uma brincadeira com Wilson Batista que não quis ir á Vila Isabel, para ver que o samba da vila faz até o arvoredo dançar. Mais uma vez ele ressalta que a vila é uma cidade independente, que tira samba, mas não tira patente.



Palpite Infeliz/Noel Rosa

Quem é você que não sabe o que diz?
Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!
Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira,
Oswaldo Cruz e Matriz
Que sempre souberam muito bem
Que a Vila Não quer abafar ninguém,
Só quer mostrar que faz samba também

Fazer poema lá na Vila é um brinquedo
Ao som do samba dança até o arvoredo
Eu já chamei você pra ver
Você não viu porque não quis
Quem é você que não sabe o que diz?

A Vila é uma cidade independente
Que tira samba mas não quer tirar patente
Pra que ligar a quem não sabe
Aonde tem o seu nariz?
Quem é você que não sabe o que diz?

Outra musica composta por Wilson Batista já se torna mais uma ofensa pessoal do que outra coisa, pois nesta música ele toca em um dos maiores incômodos de Noel Rosa que o acompanhou durante toda a sua vida, que foi o afundamento de seu maxilar que deformou um pouco seu rosto, o que não prejudicou sou fama com as mulheres que eram conquistadas com seu samba e astucia de pensamento destacadas por Almirante no livro No tempo de Noel Rosa.
Frankenstein da Vila/Wilson Batista

Boa impressão nunca se tem
Quando se encontra um certo alguém
Que até parece um Frankenstein
Mas como diz o rifão: por uma cara feia perde-se um bom coração
Entre os feios és o primeiro da fila
Todos reconhecem lá na Vila
Essa indireta é contigo
E depois não vá dizer
Que eu não sei o que digo
Sou teu amigo.

Tratar-se-á a musica que é um marco, onde definitivamente Noel Rosa firma o samba da Vila e seu trabalho no mundo do samba, e fica marcada por gerações até hoje.
Feitiço da Vila/ Noel Rosa


Quem nasce lá na Vila
Nem sequer vacila
Ao abraçar o samba
Que faz dançar os galhos,
Do arvoredo e faz a lua,
Nascer mais cedo.

Lá, em Vila Isabel,
Quem é bacharel
Não tem medo de bamba.
São Paulo dá café,
Minas dá leite,
E a Vila Isabel dá samba.

A vila tem um feitiço sem farofa
Sem vela e sem vintém
Que nos faz bem
Tendo nome de princesa
Transformou o samba
Num feitiço descente
Que prende a gente

O sol da Vila é triste
Samba não assiste
Porque a gente implora:
"Sol, pelo amor de Deus”,
Não vem agora
Que as morenas
Vão logo embora

Eu sei tudo o que faço
Sei por onde passo
Paixão não me aniquila
Mas, tenho que dizer,
Modéstia à parte,
Meus senhores,
Eu sou da Vila!

Quem nasce pra sambar chora pra mamar
Em ritmo de samba
Lá não tem cadeado nos portões por que na vila
Não tem ladrão.

Está é uma canção em que se deve prestar atenção, nos pequenos detalhes, pois contem muitas informações, pois exprime uma Vila Isabel utópica como busca legitimar este samba que valoriza a boêmia.
Começa a letra com quem nasce lá na Vila nem se quer vacila ao abraçar o samba, aqui ele busca dizer que todos que nascem lá na Vila já têm está inclinação desde o nascimento para abraçar o samba. Após, quem é bacharel não tem medo de bamba, se trata do próprio Noel Filho de família de classe media, chegou a cursar o ensino superior e vivia no subúrbio, não tem medo de bamba, o bamba a que ele se refere é o que Wilson Batista tanto exalta em suas musicas.
São Paulo da café, Minas da leite e a Vila Isabel da samba, aqui ela coloca o samba no mesmo patamar do café e do leite, como principais produtos do país. Ele diz que a Vila tem um Feitiço sem farofa, sem vela e sem vintém, que nos faz bem neste trecho ele mostra uma diferença que o seu samba, o samba  da Vila Isabel tem está diferença dos fundos das casas da tias baianas que tinham uma forte ligação com as religiões africanas.
Noel Propunha um novo feitiço para o samba, onde os instrumentos de percussão é que detinham este feitiço que faz bem o outro não? fica aqui um ponto em que alguns estudiosos deste tema apontam um certo preconceito de Noel Rosa com este samba praticado anteriormente. E utiliza também o nome de princesa para o seu bairro, para legitimar seu samba com este lado monárquico.
No final ele faz uma brincadeira dizendo que na Vila não tem ladrão e por isso não precisa de cadeado no portão.

Conversa Fiada/Wilson Batista

É conversa fiada dizerem que o samba na Vila tem feitiço
Eu fui ver para crer e não vi nada disso
A Vila é tranquila porém eu vos digo: cuidado!
Antes de irem dormir dêm duas voltas no cadeado
Eu fui à Vila ver o arvoredo se mexer e conhecer o berço dos folgados
A lua essa noite demorou tanto
Assassinaram o samba
Veio daí o meu pranto.

A resposta de Wilson Batista veio de uma maneira muito irreverente. Nesta musica ele responde provocando algumas afirmações de Noel Rosa no Feitiço da Vila, principalmente a segurança que Wilson diz que antes de dormir se deve ter cuidado e d
dar duas voltas no cadeado, que o Feitiço da Vila e conversa fiada pois ele foi conferir e não viu nada de feitiço.
Ainda foram compostos mais duas musicas João ninguém composta por Noel provocando a legitimidade de Wilson Batista expondo toda a acomodação da vida de Wilson batista que se preocupava em fumar charutos do que trabalhar e ganhar dinheiro a resposta veio em terra de cego, onde Wilson diz que em terra que não se tem samba de qualidade em que faz mais ou menos se sobressai.

João Ninguém

Noel Rosa
  
João Ninguém
Que não é velho nem moço
Come bastante no almoço
Pra se esquecer do jantar...
Num vão de escada
Fez a sua moradia
Sem pensar na gritaria
Que vem do primeiro andar

João Ninguém
Não trabalha e é dos tais
Mas joga sem ter vintém
E fuma Liberty Ovais
Esse João nunca se expôs ao perigo
Nunca teve um inimigo
Nunca teve opinião

João Ninguém
Não tem ideal na vida
Além de casa e comida
Tem seus amores também
E muita gente que ostenta luxo e vaidade
Não goza a felicidade
Que goza João Ninguém!

João Ninguém não trabalha um só minuto
E vive sem ter vintém
E anda a fumar charuto
Esse João nunca se expôs ao perigo
Nunca teve um inimigo
Nunca teve opinião
O que deve ser posto em relevo é que a partir destas canções o samba saiu fortalecido e com está contribuir para a difusão e integração do povo, dentro deste ritmo que se tornou sinônimo de Brasil.

Terra de Cego/Wilson Batista
Perde a mania de bamba
Todos sabem qual é
O teu diploma no samba.
És o abafa da Vila, eu bem sei,
Mas na terra de cego
Quem tem um olho é rei.
Pra não terminar a discussão
Não deves apelar
Para um barulho na mão.
Em versos podes bem desabafar
Pois não fica bonito
Um bacharel brigar.







Biblioteca da Universidade Católica de Petrópolis.
Biblioteca municipal Gabriela Mistral.
Musicas de Noel Rosa:
Adeus, Noel rosa, Ismael Silva e Francisco Alves, 1931.
A.E.I.O.U. Noel Rosa e Lamartine Babo, 1931
Até amanhã, Noel rosa, 1932.
Cem mil réis, Noel rosa e Vádico, 1936.
Com que roupa?, Noel rosa, 1929
Conversa de botequim, Noel rosa e Vádico, 1935
Coração, Noel rosa, 1932.
Cor de cinza, Noel rosa, 1933.
Dama do cabaré, Noel rosa, 1934.
De babado, Noel rosa e João Mina, 1936.
É bom parar, Noel rosa e Rubens Soares, 1936.
Feitiço da Vila, Noel rosa e Vádico, 1936.
Feitio de oração, Noel rosa e Vádico, 1933.
Fita Amarela Noel rosa, 1933.
Filosofia Noel rosa 1933

          Gago apaixonado, Noel rosa, 1930.
João Ninguém, Noel Rosa, 1935.
Minha viola, Noel Rosa, 1929.
Não tem tradução, Noel rosa, 1933.
O orvalho vem caindo, Noel rosa e Kid Pepe, 1933.
O x do problema, Noel rosa, 1936.
Palpite infeliz, Noel rosa, 1935.
Para me livrar do mal, Noel rosa e Ismael Silva, 1932.
Pastorinhas, Noel rosa e João de Barro, 1934.
Pela décima vez, Noel rosa, 1935.
Pierrô apaixonado, Noel rosa e H. dos Prazeres, 1935.
Positivismo, Noel rosa e Orestes Barbosa, 1933.
Pra que mentir Noel rosa e Vadico, 1937.
Provei, Noel rosa e Vadico, 1936
Quando o samba acabou, Noel rosa, 1933.
Quem dá mais?, Noel rosa, 1930
Quem ri melhor, Noel rosa, 1936.
São coisas nosso Noel rosa, 1936.
Tarzan, o filho do alfaiate, Noel rosa, 1936.
Três apitos, Noel rosa, 1933.
Último desejo, Noel rosa, 1937.
Você só... mente, Noel rosa e Hélio Rosa, 1933












REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

BARBOSA, Orestes – Samba. 2a. Ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.
BURKE, Peter: Cultura popular na Idade Moderna. Companhia das letras, 1989.
CABRAL, Sérgio – As Escolas de samba no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Lumiar, 1996.
CALDEIRA, Jorge – Noel Rosa. De costas para o mar. 3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
DOMINGUES, H. F. (Almirante) – No tempo de Noel Rosa. 2a. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.
FENERICK, José Adriano – Nem do Morro, Nem da cidade: as transformações do samba e a indústria cultural. 1920-1945. São Paulo: Annablume/FAPESP, 2005.
FENERICK, José Adriano, Noel Rosa, o samba e a invenção da música popular brasileira. artigo
GOMES, B.F- Wilson batista e sua Época. RJ: Funarte, 1985.
História de um ritmo/ Oscar D’Ambrosio  
http://www.unesp.br/aci/jornal/191/musica.php
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico . Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.
RAMIRO, Lopes Bicca Junior.  NOEL ROSA: NA FRONTEIRA ENTRE
NAPOLITANO, Marco.  A história depois do papel. Fontes históricas.
MÁXIMO, J. & DIDIER, C. – Noel Rosa. Uma biografia. Brasília: UNB, 1990.
MORIN, Edgar, Cultura de Massas no séc. XX .6.ed Forense Universitaria.1981
MOSCOVICI, S. (2003). O fenômeno das representações sociais. In S.
MOSCOVICI (Ed.), Representações sociais: investigações em
psicologia social (pp. 29-109). Petrópolis: Vozes.
O SAMBA: cantando a história do Brasil. Mara Natércia Nogueira.
Ex-malandro. Valdemar Valente Júnior
Não era só a polêmica com Noel Rosa que fazia parte da vida conturbada de Wilson Batista antes de o malandro se regenerar.
O MORRO E A CIDADE.  Centro Universitário Metodista – IPA/RS
SANDRONI, Carlos – Feitiço Descente. Transformações do samba no Rio de Janeiro (1917-1933). Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
TINHORÃO, José R. Música Popular, do Gramofone ao Rádio e TV. São
Paulo: Ática, 1981.
VIANNA, Hermano. 2.ª ed. O mistério do samba. Rio de Janeiro: Jorge Zahar/UFRJ, 1995.

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